Só-risos: SUPERSTIÇÕES E SIMPATIAS

O BLOG DE AGOSTO/13

Superstições e “Simpatias”

Povo mestiço de lusos e negros,o baiano é extremamente supersticioso.

São inúmeros os preceitos,as recomendações,as rezas para se obter sorte na vida.Preceitos para ter sucesso na cozinha,também;pois,a cozinha baiana,com seus dendês é ritual e cabalística,muitas vezes.Para o feijão sair gostoso,tem que ser feito em panela de barro.O café tinha que ser quente e forte,feito numa boa chocolateira de folha de zinco,que em vez de fazer chocolate,como o nome parece indicar,faz café.Seja passado,coado ou café de pedreiro,feito ás tontas,com o pó assentado no fundo da vasilha,onde se jogava uma brasa acesa.

Nenhuma cozinha deixava de ter o seu São Benedito,o pretinho;sua imagem (ou quadro )posta ao lado do fifó,trás fartura para o lar.Este servia para iluminar,naqueles tempos sem luz elétrica,e era feito de um frasco ou garrafa com uma torcida embebida em gás.Cozinha em que havia um São Benedito a miséria não entrava.Não havia “Bernardo em cima do fogão”,ou seja,fogo apagado por falta de dinheiro.

As colheres eram sempre de pau.Havia de vários tamanhos,formatos ou feitios e até as decoradas que só serviam para enfeite.Lembro de algumas com verdadeiras paisagens pintadas no cabo,umas belezuras!”Quem tem tempo faz a colher e borda o cabo”,diz o ditado.Antes de se usar uma colher de pau deve-se deixá-la dentro d’água fria,de molho,para perder o gosto da madeira.

Vai que a dona da casa descobre que sua filha ou sobrinha adolescente está ficando muito peituda.O jeito é comprar uma colher virgem e bater com o cabo dela nos peitinhos que estão apontando,que eles param de crescer.

Que mulher sabida ia querer mexer a panela com uma colher de metal!?Só se fosse para ficar com o “rego”(na região do cócix)cheio de brotoejas.

Também com as facas tem que se tomar cuidado.Só se põe a lâmina da faca no fogo se for para curar um ferimento com prego,que pode apostemar e dar tétano;neste caso,assim que acontecer o ferimento,é necessário esquentar a lâmina no fogo e bater no lugar ferido,até que o sangue se espalhe;sem esquecer de pegar o danado do prego causador do mal e enfiá-lo numa cebola virgem,para não infeccionar.

Qualquer mulher baiana boa quituteira tem suas cismas;elas sabem que qualquer comida que precise de “ponto”,como vatapá,canjica ou doce,a panela tem que ser mexida sempre pela mesma pessoa,se não,desanda.Reza o velho ditado:”Panela que muitos mexem ou sai insossa ou salgada demais.”Mulher “de lua”(menstruada)não deve mexer panela;a comida desanda.

Mesmo que a pessoa esteja enraivada,nunca deve bater com a colher de pau nas bordas da panela do arroz;ele vai queimar,com certeza.Outra sobre o arroz:quem quiser que ele renda,ou seja,cresça muito,deve encher as bochechas de ar,no exato momento da fervura.Se a cozinheira estiver com a comida atrasada,joga um pouco de sal no chão e tudo flui mais rápido.

A farinha e a pimenta,bem como o dendê não podem faltar na nossa cozinha.Se exagerou no molho é bom tomar um gole de café bem quente e sem açúcar.Agora,pimenta de cheiro no chão da cozinha é briga feia,na certa.

Quem chupa abacaxi não deve beber água,para não ficar com a língua retalhada.

Quem come melancia ou jaca não pode beber cachaça;é morte certa.

Quem come ou bebe sobejo alheio fica sabendo os segredos do outro.

Colher caída no chão é visita de mulher;faca ou garfo,visita masculina.

Da mulher e do melão,o melhor é o calado.

Oferecer o sal pedido, emprestado ,na mão,trás miséria.

E não esquecer:em casa onde falta o pão,todos gritam e ninguém tem razão.

Caranguejo só engorda em mês que não tem R (letra erre):maio,junho,julho,agosto.

Terminado o serviço,hora de varrer a casa e a cozinha;todo o lixo será trazido e juntado na cozinha;só se varre de dentro para fora se for dia de enterro,para que o rastro do defunto acompanhe o cisco e não volte para assombrar os viventes.Diz-se ,também,que varrer para a rua o lixo da casa,a fortuna vai embora.

Uma praga comum nas cozinhas é a das formigas,principalmente,as pequenas e pretas.Algumas pretas velhas se livravam dessa praga,fazendo cruzes de carvão,no chão,nas paredes e no fundo das panelas,de barro,naquela época.Embora alguns não se preocupassem com isto,porque diziam que formiga é bom para a vista(!).

Se o garoto da casa estivesse com vermes,parasitas comuns nas crianças,convinha tomar um purgante,porém,antes de beber era bom colocar um bago de carvão atrás da orelha e segurar a chave da cozinha com a mão esquerda,enquanto cheira a mão direita;para evitar vomitar.Quem já foi obrigado a tomar esse purgante,sabe porque.

Evite,por favor,pisar no carvão que caiu no chão da cozinha;sai uma fofoca terrível,que gera inimizades para toda a vida.

Visitas indesejadas,que se demoram infinitamente!Põe sal no fogo;ou,então ,ponha o pano de chão sobre a vassoura virada e coloque a mesma vassoura atrás da porta da cozinha,dizendo:-Fulano,apanhe seu chapéu e vá embora.

Embora também vou eu.Pois,visita e peixe,depois de três dias,fede.

Será que tem alguém que não acredita em superstições?Que nunca usou um patuá,seja pé de coelho ,ou figa ou medida do Bomfim.?Duvido!

A superstição é filha do medo,daquele medo ancestral do desconhecido e que desde tempos imemoriais sujeitos mais espertos que os outros se aproveitaram e criaram as religiões.

Não sei desde quando Agosto passou a ser considerado o Mês do Desgosto.

Na época dos romanos,com certeza,que deram ao oitavo mês do ano o nome do Imperador Augusto,vencedor de César.

Os romanos viam maus presságios neste mês,em que acreditavam ver um grande dragão atravessando os céus,botando fogo pela boca,horrível,arrastando com ele morte e destruição.Era apenas a constelação de Leão,mas,o medo os fazia enxergar monstros e desastres.

Por ser um mês muito frio e dado a ventos desembestados,o imaginário popular dizia que as almas penadas saiam a pedir rezas e assustar os mortais,arrastando correntes com um uivo aterrador;quem não se lembra de D.Bibiana Terra,personagem de “O Tempo e o Vento”,que ,na sua cadeira de balanço,monologava:-Noite de ventos,noite de tempestades.

Na Argentina não se lava o cabelo durante esse mês:atrai a morte.

Em Portugal,país rico em crenças misteriosas,ninguém casava no mês de agosto;era quando os navios zarpavam a descobrir novos mundos e as moças corriam o risco de não ter lua-de-mel,nem marido algum dia,pois o risco de enviuvar era constante;há um velho ditado português:”casar em agosto,traz desgosto.

”Por conta disso as pessoas não viajam, não se mudam,não casam,nem começam negócios no mês de agosto;se um idoso passar incólume esse mês,não morrerá durante esse ano.

O certo é que muita coisa ruim aconteceu neste mês:duas guerras mundiais,o genocídio americano em Hiroshima e Nagasaki,a Noite de São Bartolomeu,inúmeras revoluções e desastres.

No Brasil,o suicídio de Getulio,no dia 24,que é também o Dia da Sogra,os terreiros de candomblé ficam em alerta máximo,pois é o dia que os exus andam soltos e incontroláveis.

Na Europa,acreditam que é o dia em que o Diabo tira para passear e espalhar maldades.

No dia 25,Jânio renunciou criando a maior crise institucional neste país,desde a República;dizendo ele,que, influenciado por “forças ocultas,seja lá o que isso signifique.

Já no dia 22,um desastre de automóvel muito mal explicado,matava Juscelino.

E tome quarteladas,revoluções,desastres aéreos ou marítimos,tudo nesse mês.Que ainda é o mês do cachorro louco,ninguém sabe porque,mas,todos querem vestir a camisa pelo avesso,para se livrar dos dentes do cão.

Na Bahia,a gente toma banho de pipoca para desfazer mal feitos e tirar ziquizira;é o mês de Obaluaiê,santo vetusto que aparece nos terreiros vestido de palha sem nunca mostrar o rosto,senhor das doenças , da peste e epidemias;na Igreja Católica é S.Lázaro,sempre representado por um cão que lhe lambe as feridas,talvez venha daí a estória com os cachorros.

Quem me pergunta se acredito no azar,como boa baiana,digo que sim.Vejam a Lei de Murphy:”quando alguma coisa está fadada a dar errado,dará.”

De qualquer sorte trago para vocês essas medidas do Bonfim,que já me valeram,para que os proteja dos malefícios,dos cachorros,dos políticos,das moléstias ,das guerras,das sogras e das almas penadas,pois,digo como os espanhóis:”yo no creo em brujas,pero que las hay,las hay.”

Ah,agosto é também o mês das bruxas.Haja patuá!

E PARA A TUCANADA...